terça-feira, 24 de junho de 2008

"Bebo Socialmente" . Será ?


Já enfoquei esse assunto nesse blog , mas como o sinal de alerta continua piscando cada vez mais forte , trago mais informações para auxiliar os pais no cuidado com seus filhos .
Torno a ressaltar que os pais , ou melhor , os adultos têm que estar atentos aos exemplos que oferecem aos mais jovens .
O álcool é sempre ligado à idéia de felicidade e comemorações . É apresentado às crianças dentro de suas casas , no âmbito familiar , onde há uma idéia de segurança e de bons exemplos a serem seguidos . Não há porque desconfiar do que acontece em nossa casa ou na de nossos amigos . São pessoas confiáveis com quem convivemos sem cuidados .
Mas entre os adultos confiáveis , onde a frase " bebo socialmente" é , freqüentemente ouvida , essa nem sempre é a realidade .
O alcoolismo é uma doença que atinge a sociedade , e vem tendo seu início cada vez mais cedo .
Mesmo com a divulgação sempre maior de informações alertando para os riscos .
Portanto , todo cuidado é pouco .
Devemos estar todos em estado de ALERTA , principalmente , quanto às conseqüências do exemplo , que nossas atitudes estão dando à geração dos mais jovens .
Isso também é uma forma de cuidar !
Carmen Marina Sande


Do social à dependência: A família precisa estar atenta

Existem meios para saber se o filho ou parente está consumindo álcool de maneira social ou se é dependente. De acordo com normas da Organização Mundial de Saúde, fatores simples no cotidiano da pessoa podem revelar o tamanho do problema.

A OMS estabelece
critérios (clique no link grifado e veja os critérios) que vão dizer se a pessoa é dependente ou não. Se o indivíduo apresentar três ou mais desses fatores em seu comportamento, a dependência é certa.

Por isso, diz a psicóloga Maria Christina de Queiroz Lacerda, do Centro Paulista de Recuperação, unidade clínica do Grupo Viva, a família precisa ficar atenta ao comportamento da pessoa.

“Quando é dependente, por exemplo, ela apresenta problemas de concentração e memória, chegando a ter raciocínio mais lento”, explica. E, prestando atenção no comportamento suspeito, é fundamental saber quais são os sintomas da dependência.

E há meios, desde a infância, de detectar o quanto a pessoa corre riscos de, no futuro, tornar-se um dependente do álcool e de drogas. “Sabemos, por exemplo, que grande parte das pessoas hiper-ativas tem tendência de desenvolver dependência”, afirma. Ansiedade elevada e hiper-atividade, exemplifica, são fatores que devem ser observados bem de perto pela família.

É interessante observar, segundo a psicóloga, que os sintomas como depressão, bipolaridade, são comorbidades pré ou pós-existentes ao uso do álcool. Por isso é necessária a mudança comportamental, como parte fundamental do tratamento. “O processo só terá sucesso caso o paciente entenda sua condição e aceite o tratamento”, alerta.

E a família, identificando o problema, deve entender que a pessoa está doente e que só o tratamento é eficaz. Seja a favor ou contra sua vontade, ele deve passar pelo tratamento, para que possa ter essa mudança comportamental, entendendo sua doença e retomando a normalidade no seu convívio familiar e social.

Fonte: OMS

domingo, 8 de junho de 2008

Mudança - O Bambu



Ao iniciarmos uma terapia tem-se uma grande expectativa a respeito do tempo que será necessário , até que comecem a aparecer os primeiros resultados .

Existem várias abordagens utilizadas para uma psicoterapia .

A que demanda mais tempo é a Psicanálise . Outras abordagens como a Comportamental , a Gestalt , a Humanista ou a Familiar Sistêmica (com a qual eu trabalho) , se propõe a apresentar resultados em tempo bem mais reduzido .

Darei como exemplo o meu trabalho .

Uma vez conhecida a queixa do paciente , iniciamos um processo de auto-conhecimento .Temos que estudar as características , a estória familiar desse paciente , detalhes sobre sua família de origem , hábitos , isto é , tudo que faça parte do contexto de sua criação e de sua vida . Muitos pacientes falam com desenvoltura sobre sua família , mas ficam confusos quando se trata de falar de sí mesmos . Lembro de uma paciente , Renata , que no início da terapia , tinha acessos de riso toda vez que tentávamos descobrir quem ela era , de fato . E ficava difícil levar o assunto adiante .

Isso tudo vai nos permitindo criar uma base para uma etapa que virá a seguir , a das mudanças . É preciso conhecer o terreno , adubá-lo com motivação para que o paciente se prepare para encontrar suas novas soluções e , só então , esperar que ele implemente essas mudanças .

Para ilustrar esse processo escolhi , mais uma vez como inspiração , um texto encontrado na Internet , do qual , infelizmente , desconheço a autoria e que me permitiu uma livre adaptação .

Carmen Marina Sande

O Bambu

Depois de plantada a semente dessa incrível planta , não se vê nada , absolutamente nada , por 4 anos - exceto o lento desabrochar de um diminuto broto , a partir do bulbo .

Durante esses anos, todo o crescimento é subterrâneo , numa maciça e fibrosa estrutura de raizes , que se estende vertical e horizontalmente pela terra , preparando uma sólida estrutura , capaz de sustentar o que está por vir .

Mas então , no quinto ano , o bambu cresce até atingir 24 metros . Fino , esguio e flexível . Somente a partir daí aparecerão as folhas para que a planta se torne resistente e adulta .

Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu .

Você trabalha , investe tempo e esforço , fazendo tudo que pode para nutrir seu crescimento , e as vezes não se vê nada por semana , meses e até mesmo , por anos .

Mas se houver paciência para continuar trabalhando e nutrindo , o "quinto ano " chegará e o crescimento e a mudança que se processarão vão surpreender !

Não devemos desistir fácil das coisas . Em nossos trabalhos , especialmente projetos que envolvem mudanças de comportamento , cultura e sensibilização para novas ações , vale lembrar do bambu , para não desistir frente as dificuldades que surgem e que são muitas !

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A grande dificuldade : Mudar

A base do trabalho de psicoterapia é se acreditar na possibilidade de mudanças .Pacientes e terapeutas não perderiam seu tempo se não vislumbrassem o sucesso ao final do trabalho .
Quando se tem uma queixa , um sofrimento , uma dor , é normal que se busque ajuda para reverter essa situação e voltar a uma vida agradável . Pessoas mentalmente saudáveis e em seu juízo perfeito tentam sair do desconforto e do sofrimento .
Para que isso aconteça , alguma coisa tem que mudar . É preciso buscar uma nova maneira de lidar com o problema , seja ele de que natureza for . Isso é fácil de entender !
Não se pode conseguir resultados diferentes usando os mesmos ingredientes e a mesma receita .
Por vezes são pessoas que não nos fazem bem . Inteligente é diminuir o contato com elas . Quando isso não é possível , precisamos aprender a conviver de uma forma em que não haja espaço para que nos magoem . Em outras , a escolha equivocada de uma profissão , de uma moradia , podem se transformar em decepção quando vivenciamos melhor .
Loucura é colocar nossa expectativa na mudança do outro . Devemos contar com a nossa própria capacidade de mudar . Pensar que isso é fácil , é um grande engano .
No livro " Viver Conscientemente " , que é uma coletânea de ensaios por Jorge Waxemberg encontrei um texto que explica com extrema clareza nossa dificuldade com as mudanças . Vou citar alguns trechos abaixo .
Carmen Marina Sande

"Apesar do fato de aceitarmos a idéia de que a mudança é indispensável para o progresso , é muito difícil para nós - para não dizer quase impossível -reconhecer que o processo de permanente mudança é uma lei universal e que , portanto , aplica-se igualmente em todos os aspectos de nossa vida , incluindo opiniões e maneira de pensar . Desde o momento do nascimento começamos a construir uma idéia da realidade . Pouco a pouco desenvolvemos nossas opiniões e a visão do mundo e da vida .
Enquanto estamos envolvidos nesse processo ,estamos ávidos para aprender : questionamos , investigamos e estudamos . Absorvemos conhecimento e cada nova informação nos enriquece e nos ajuda a expandir nossa compreensão . Quando alcançamos o ponto onde nos sentimos suficientemente seguros do que sabemos , tornamo-nos mais fechados e começamos a perder a capacidade de mudar nossas interpretações . Estamos mais inclinados a defender nossas posições do que expandi-las . Acaba sendo mais importante para nós provar que estamos certos , do que buscar uma verdade que poderia mostrar o contrário .
Essa disposição de impor nosso ponto de vista dá origem a conflitos pessoais e não pára aí.
O que tudo isso significa hoje para nós ? Apesar de sabermos que nosso modo de ver as coisas não é perfeito ou definitivo , muitos de nós sentimos que "estamos certos" , que nosso ponto de vista é o mais sensato , o mais justo , o melhor .
É verdade que toleramos diferentes opiniões e , teoricamente , permitimos que os outros pensem e sintam à sua maneira , mas , no íntimo , sentimos a necessidade de justificar nosso ponto de vista pensando ser ele o mais coerente .
Pensamos que ele é universal e portanto , o melhor para todos . Essa atitude , que parece ser inocente à primeira vista , é possivelmente a raiz das tragédias da humanidade .
É hora de aprendermos a grande lição da História . A despeito da enorme determinação com a qual cada grupo humano lutou por séculos para impor seu ponto de vista , nenhum nunca alcançou tal objetivo .
Nenhuma visão do mundo , nenhuma doutrina , tem sido compartilhada por todos os seres humanos .
É claro que isso não significa que um específico ponto de vista é nocivo ou inferior . Pelo contrário , cada um tem a possibilidade de ser o melhor , dentro de seu limite .
Não é fácil expandir nosso ponto de vista . Porém , se somos capazes de mudar somente um pouco nossa atitude , esse caminho poderia ser mais claro . Se nós percebêssemos o quanto limitada é nossa visão , poderíamos aplicar em nossa vida a lição que a História tem nos ensinado. Também poderíamos dar mais ênfase na necessidade de examinar e aperfeiçoar nossa visão , em vez de estar sempre lutando para impô-la . Sob esse aspecto , estamos na mesma situação : todos precisamos ampliar nossos pontos de vista .
Esse é um trabalho que cada pessoa faz consigo mesma .
Não pode ser imposto a ninguém mais .
É uma vitória que cada indivíduo pode conseguir dentro do seu próprio coração .
Talvez esse seja o caminho de que precisamos para conseguir um mundo com mais harmonia e paz .

Livro : Viver Conscientemente
Coletânea de Ensaios
por
Jorge Waxemberg
ECE
editora