quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Deixar de amar , mas como ?

Não sei quantas vezes já ouvi em meu consultório queixas de decepções amorosas .

Essa é uma situação bastante comum . Mas nós não precisamos que o outro nos iluda .

Na maioria das vezes a expectativa errônea é criada por nós mesmos .
Tento levar meus pacientes a entender que não perderam um amor real , mas sim , um amor idealizado por eles próprios .Por isso era tão importante ! Era uma resposta aos nossos desejos e carências .Perfeito para as nossas necessidades .
Para o outro também é doloroso descobrir que não é o objeto do nosso amor .

Que não é amado como ele é , mas como gostaríamos que fosse .
O outro custa a entender que nos apaixonamos por alguém que inventamos , para satisfazer às nossas necessidades pessoais .
Nos empenhamos em tentar mudar o outro de acordo com nosso sonho .E se não conseguimos , sofremos com a sensação de irmos a um encontro em que o outro não compareceu . Que tristeza . Que solidão !
Somos abandonados pelo amor perfeito que criamos .

Frustração e decepção acontecem para os dois . Por isso tanta dor , tanta mágoa !

Ambos foram enganados por essa expectativa equivocada .

Isso não acontece só com o amor dos amantes . Acontece com pais que idealizam seus filhos , filhos que não conhecem seus pais , com amigos , e por aí vai . . .
É difícil admitir que fomos nós que erramos . Vimos errado , percebemos errado , escolhemos errado .
É mais fácil responsabilizar o outro .

Mas aí vem a parte boa disso tudo .
Se nossa infelicidade é causada por um erro nosso , podemos corrigí-lo .
E as possibilidades de acerto numa próxima vez , são enormes !

Carmen Marina Sande





Desconstruções
(Martha Medeiros)


Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem dela. Esta imagem
tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas
e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso
tudo que nos apaixonamos. Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que
projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso.
Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito
tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa
"inventou" um personagem e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da
separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução
daquela pessoa que você achou que era real.

Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo.
Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por
dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma
fraude, não por alguém autêntico.Ok, é natural que, numa aproximação, a
gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar uma
história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e
cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é no começo.
Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente
mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se
formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e
atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o
outro fica ali, atônito.

Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se
desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por
uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de
amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem
você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo
não passou de uma representação - e olha, talvez até não tenha sido por
mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se
inventa.

A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca
foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo
que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé.