terça-feira, 29 de novembro de 2011

A LAGOSTA e as crises de crescimento

A Lagosta e as crises de crescimento

Por vezes , meus pacientes chegam com queixa de que estão  desorientados , desanimados , de baixo - astral , desesperançados e ansiosos . Sentem que tudo vai mal e que parece que estão fazendo tudo errado , não havendo possibilidades de mudar isso  por  estarem  despreparados  para  o  que  parece  estar  por  vir  .
Estão surpresos por esse não ser seu comportamento habitual e , ao mesmo tempo , não conseguem imaginar o que possa ter desencadeado essa crise .
Pensam logo em depressão ou ataque de pânico .
Costumo fazer uma comparação que li , anos atrás , num livro da José Olimpio Editora , cujo nome , se não me engano , era "Crises " , ou talvez , "Fases" .
A autora era uma psicóloga americana ( ou inglesa ) , que havia feito uma pesquisa para provar que temos crises de crescimento durante toda a nossa vida . Fazia , para ilustrar , uma comparação com o crescimento da lagosta .
Peço perdão pelas informações imprecisas sobre o livro . Eu o emprestei e nunca mais me foi devolvido .O pior é não lembrar a quem emprestei !
Dizia ela , que as etapas de desenvolvimento eram estudadas até o final da adolescência , como se a evolução do ser humano se encerrasse com a entrada na idade adulta . O que ela considerava um erro .

Concordo plenamente com isso . Gosto de pensar que os seres humanos normais , só param de evoluir com a morte .

A lagosta é o maior invertebrado do mundo . Com a sua dura carapaça , ou exoesqueleto , movimenta-se confiante sem ser ameaçada por predadores naturais .
Ela desconhece o risco que corre vindo dos humanos que tanto apreciam sua carne !
Mas a lagosta nasce pequena e para que seu corpo possa se expandir , é necessário que sua carapaça se quebre . Seu corpo cresce e se a carapaça não se romper , ela morrerá sufocada . Seu corpo macio fica exposto aos predadores e vulnerável . Ao se livrar da prisão da carapaça ela faz sua primeira refeição . Se alimenta da própria casca que vai doar sais minerais para suprir as energias perdidas e fortalecer sua próxima carapaça . Cuidadosamente ela enterra as antigas evidências da casca protetora para que os predadores não saibam que se encontra desprotegida .
Nesses períodos ela fica amedrontada , assustada e não sai da toca onde se refugia . Está sem a sua proteção natural e privada da estrutura que lhe garante a segurança .
É uma situação ameaçadora , fora da tranqüilidade de sua vida habitual .
A mudança e o novo a fragilizam ! E fica assim até que se crie outra carapaça adequada ao seu novo tamanho . Então retoma sua vida normal , sentindo-se segura e protegida outra vez .
Essas etapas acontecem algumas vezes até que ela atinja seu tamanho final .
Em todas elas a lagosta vive esse sofrimento de medo e insegurança .
Mas não há outra forma de crescer .

O mesmo acontece conosco , seres humanos . Durante nossas vidas temos que ir nos adaptando às mudanças trazidas pela aprendizagem de novas experiências e do nosso contato com outros humanos . Estamos sempre aprendendo e crescendo . Ou melhor , deveríamos !
São muitas as fases sofridas de insegurança em nossa vida , causadas pelo aprendizado e pelas modificações que o acompanham . Mas isso é viver e aprender .
Todas as nossas certezas são postas em dúvida . O caminho conhecido trilhado até então , parece que não nos serve mais .
Perdemos nossas referências . Como se diz : "Perdemos o chão ."
É uma época de medo , insegurança e desamparo .
Ficamos deprimidos , "fechamos para balanço" , isolados em nossa "toca" , porque o mundo se torna assustador .
O que mais apavora é que não nos reconhecemos e não sabemos o que está acontecendo conosco , nem porquê .
Não identificamos que estão se abrindo novas portas , novas possibilidades para a nova pessoa que está nascendo em nós .
Ficamos cegos e paralisados frente às mudanças .
Mas só se cresce passando por esse processo doloroso . Quebrando as estruturas para criar novas .

Como a lagosta ao quebrarmos nossos paradigmas , nossos conceitos e preconceitos , perdemos nossas certezas e nosso raciocínio envereda por caminhos desconhecidos , calcados em novidades , por isso assustadores .

Mas , como a lagosta devemos nos alimentar das experiências já vividas , digerir a vida conhecida até então e dai , nos fortalecermos para as novas estruturas que virão .

Nossa fragilidade deve ser disfarçada , escondida para nos protegermos de pessoas que se aproximam e se aproveitam de nossas fraquezas nesse momento .
As pessoas que tentam ignorar suas crises de crescimento , como forma de proteção da dor , vivem uma vida estagnada . Se castram por medo de viver !
Quem não tem crises já morreu e não sabe .
Ao nos conhecermos melhor , iremos entender esse processo e aguardar , sem angústia que ele se complete . É o nosso aperfeiçoamento em evolução !
Espero que após essa leitura vocês pensem como eu :

" Que venham as crises , estou pronto para aproveitá-las . "

Carmen Marina Sande