segunda-feira, 10 de agosto de 2009

NOSSA RELAÇÃO COM O DINHEIRO

Uma das maiores dificuldades que surgem em meu consultório é a relação com o dinheiro . Falta de controle , excesso de controle , ter muito , a falta e outras situações que sempre geram muito sofrimento .

“ Por causa dele muitos já mataram e morreram , guerras foram deflagradas e famílias destroçadas .Noites de sono foram perdidas , casais separados , amigos traídos e houve , até os que decidiram pôr fim à própria vida quando se viram sem ele . O fato é que o dinheiro não é , nem de longe , apenas uma “ferramenta” que facilita as trocas e , conseqüentemente , a sobrevivência humana . Em vez disso , assume inúmeras representações , mobiliza associações , sistemas de crenças , valores , afeta emoções , aciona sistemas defensivos e obedece a dinâmicas com lógicas próprias e complexas .” ( Revista Mente e Cérebro )

De fato , são inúmeros os problemas com essa origem que procuramos solucionar em sessões de terapia .
O dinheiro como prova de amor é a mais freqüente .
$ Deu um presente mais caro para ele do que deu para mim ( gosta mais dele ).
$ Se preocupa mais em aumentar a pensão da ex –mulher do que com o que está faltando na nossa casa (gosta mais da ex que de mim ) .
$ Os filhos da outra sempre estudaram em colégios caros , pros nossos , qualquer coisa serve ( gosta mais dos outros filhos ) .
$ Pagou faculdade particular para o meu irmão . Eu tive que fazer vestibular um montão de vezes , até entrar numa pública .
$ Sempre deu mesada maior para eles do que para mim .
$ Enquanto a outra família ficou com um casarão , nós vivemos apertados nesse apartamento .
$ Pra ele sempre carro do ano . Meu carro só troca quando cai de podre .
Outra situação dolorosa é a que tira a auto-estima da pessoa pela perda em sua situação financeira . Pessoas bem empregadas , com farta rede de amigos , bem consideradas , convidadas para eventos , de um momento para outro sentem-se ( com motivo , ou não ) , esquecidas por perderem seu emprego . Deixaram de ser simpáticas ? Perderam suas qualidades ? Por que então as pessoas se referem a elas como : “ Coitada ! Perdeu o emprego. “ Seu dinheiro pode diminuir , mas continua com o corpo são , com sua potencialidade , seu caráter , logo , é a mesma pessoa ! Coitada por que ?

“Mais tarde , a pessoa perceberá que o dinheiro ganho , oferecido ou negado , bem ou mal usado , tem efeito muito parecido : surte efeito sobre si , sobre o outro , envolve confiança , investimentos afetivos , pauta relacionamentos e determina os lugares que os sujeitos ocupam nos diferentes grupos , funciona como recurso de interação cultural , habilitando as pessoas a obter o que desejam . E , em muitos casos , transforma-se em um ícone de felicidade .” (Mente e Cérebro )

Ou não , porque a recíproca também é verdadeira .
O dinheiro gera a dúvida sobre a qualidade das relações . “Gosta de mim ou do meu dinheiro ?”
E o medo . E o isolamento : “Tenho que investigar muito bem quem trago em casa , porque posso estar colocando em risco nossa segurança . “
“ Meus filhos só saem com seguranças e não vão a festinhas de amiguinhos nem a passeios de colégio . Tenho pavor de seqüestro . E nunca se sabe quem pode ser uma ameaça !”
Ao invés de proporcionar a liberdade de viver tudo que se deseja , pode ser transformado em uma prisão .

“ São essas intrincadas relações que a psicologia econômica e a neuroeconomia têm se dedicado a investigar nos últimos anos . Os cientistas já depararam com conclusões curiosas . Uma delas é que o valor do dinheiro é relativo : as pessoas costumam se mobilizar para receber o troco correto de R$ 5,00 quando compram algo de R$ 15,00 , por exemplo , mas dificilmente se importarão em perder exatamente a mesma quantia na transação de um imóvel de R$ 200 mil . Os R$ 5,00 são os mesmos , mas em variados contextos parecem adquirir valor diferente . Outro achado : a frustração de perder dinheiro é processada na mesma área cerebral da dor física , o que leva a crer que ser privado de bens materiais pode doer literalmente .
Mais ainda : temos orgulho de nossos bens e vendê-los implica , quase sempre , um pequeno luto . Porém , se produtos são adquiridos para ser comercializados ( como faz o proprietário de uma loja ) eles deixam de ter esse “efeito de dotação” , como chamam os pesquisadores . As peculiaridades são inúmeras . E , em tempos de crise , compreender melhor nossas relações subjetivas com o “ vil metal “ – e até fazer as pazes com ele – pode ser lucrativo “. ( Mente e Cérebro )

É comum se ouvir a frase : “doer no bolso “. Esse texto nos esclarece um pouco da razão dessa dor .
Tudo que passamos a entender a nosso respeito vai facilitar na compreensão de nossos comportamentos e na compreensão da maneira de agir dos outros .
São armas conquistadas para a luta que travamos por uma vida melhor .

Carmen Marina Sande