domingo, 25 de maio de 2008

Cuide-se para poder cuidar





Quando chegam pais ao meu consultório com queixas a respeito de seus filhos , lembro a eles as instruções que recebemos nos aviões , sobre o uso das máscaras de oxigênio .

Se você está voando com uma criança , primeiro coloque sua máscara , depois coloque a da criança . Cuidando-se primeiro , você estará em condições de prestar o auxílio necessário . Caso contrário poderá desmaiar e estará incapaz de qualquer ajuda .

Na nossa cultura cheia de culpas , fomos convencidos de que olhar para nós mesmos é egoísmo . Essa visão só pode levar a tristes conseqüências .

Porque você só pode dar o que tem . Cuidar de sí próprio e se melhorar como pessoa , só pode melhorar , também , o conteúdo que irá oferecer ao mundo .

Se você canta , dança , lê , come bem , pratica esportes , convive com pessoas agradáveis ,está bem com a sua espiritualidade ,trabalha , participa e sente-se útil , se diverte , dorme bem . . . quer dizer que está bem consigo mesmo .

Com certeza você é uma pessoa bem humorada , tranqüila , paciente , amiga , saudável e oferece isso a quem convive com você . Você é uma pessoa "do bem" e que faz bem .

Deve ser fácil trabalhar com você . Deve ser querido e bem vindo aonde chega . Procurado nas boas e más horas porque podem contar com o que tem de bom para oferecer .

Ao perceber uma dificuldade na convivência com o outro , não perca seu tempo desejando que ele mude . Pense no que você pode mudar para melhorar essa situação .

Você só pode alterar o seu próprio comportamento e isso já não é fácil ! Por que achar que mudar o outro é mais fácil ?

Mas na verdade sua mudança irá gerar modificações no outro , mesmo que involuntárias .

Ao me trazerem queixas de outros esclareço que devemos iniciar a terapia com eles mesmos . Vamos alcançar o outro " por tabela ".

Mude você para mudar o mundo !

Seu exemplo "falará" por você da forma mais eficaz .

Carmen Marina Sande

sábado, 24 de maio de 2008

A Lagosta e as crises de crescimento

Por vezes , meus pacientes chegam com a queixa de que estão desanimados , de baixo - astral , desesperançados , que tudo vai mal e que parece que estão fazendo tudo errado , não havendo possibilidades de mudar isso .
Estão surpresos por esse não ser seu comportamento habitual e , ao mesmo tempo , não conseguem imaginar o que possa ter desencadeado essa crise .
Pensam logo em depressão ou ataque de pânico .
Costumo fazer uma comparação que lí , anos atrás , num livro da José Olimpio Editora , cujo nome , se não me engano , era "Crises " , ou talvez , "Fases" .
A autora era uma psicóloga americana ( ou inglêsa ) , que havia feito uma pesquisa para provar que temos crises de crescimento durante toda a nossa vida . Fazia , para ilustrar , uma comparação com o crescimento da lagosta .
Peço perdão pelas informações imprecisas sobre o livro . Eu o emprestei e nunca mais me foi devolvido .O pior é não lembrar a quem emprestei !
Dizia ela , que as etapas de desenvolvimento eram estudadas até o final da adolescência , como se a evolução se encerrasse com a entrada na idade adulta . O que ela considerava um erro .

Concordo plenamente com isso . Gosto de pensar que os seres humanos normais , só param de evoluir com a morte .

A lagosta é o maior invertebrado do mundo . Com a sua dura carapaça movimenta-se confiante sem ser ameaçada por predadores naturais .
Ela desconhece o risco que corre vindo dos humanos que tanto apreciam sua carne !
Mas a lagosta nasce pequena e para que seu corpo possa se expandir , é necessário que sua carapaça se quebre . Aí seu corpo macio fica exposto e pode aumentar seu tamanho .
Nesses períodos ela fica vulnerável , assustada e não sai da toca onde se refugia . Está sem a sua proteção natural e privada da estrutura que lhe garante a segurança .
É uma situação ameaçadora , fora da tranqüilidade de sua vida habitual .
A mudança e o novo a fragilizam ! E fica assim até que se crie outra carapaça adeqüada ao seu novo tamanho . Então retoma sua vida normal , sentindo-se segura e protegida .
Essas etapas acontecem algumas vezes até que ela atinja seu tamanho final .
Em todas elas a lagosta vive esse sofrimento de medo e insegurança .
Mas não há outra forma de crescer .

O mesmo acontece conosco , seres humanos . Durante nossas vidas temos que ir nos adaptando às mudanças trazidas pela aprendizagem de novas experiências e do nosso contato com outros humanos . Estamos sempre aprendendo e crescendo . Ou melhor , deveríamos !
São muitas as fases sofridas de insegurança em nossa vida , causadas pelo aprendizado e pelas modificações que o acompanham . Mas isso é viver e aprender .
Todas as nossas certezas são postas em dúvida . O caminho conhecido trilhado até então , parece que não nos serve mais .
Perdemos nossas referências . Como se diz : "Perdemos o chão ."
É uma época de medo , insegurança e desamparo .
Ficamos deprimidos , "fechamos para balanço" , isolados em nossa "toca" , porque o mundo se torna assustador .
O que mais apavora é que não nos reconhecemos e não sabemos o que está acontecendo conosco , nem porquê .
Não identificamos que estão se abrindo novas portas , novas possibilidades para a nova pessoa que está nascendo em nós .
Ficamos cegos e paralisados frente às mudanças .
Mas só se cresce sofrendo . Quebrando as estruturas para criar novas .
As pessoas que tentam ignorar suas crises de crescimento , como forma de proteção da dor , vivem uma vida estagnada . Se castram por medo de viver !
Quem não tem crises já morreu e não sabe .
Ao nos conhecermos melhor , iremos entender esse processo e aguardar , sem angústia que ele se complete . É o nosso aperfeiçoamento em evolução !
Espero que após essa leitura vocês pensem como eu : " Que venham as crises , estou pronto para aproveitá-las . "
Carmen Marina Sande

quinta-feira, 22 de maio de 2008

MENTIRA - continuando o assunto


Em postagens anteriores venho tentado esclarecer o papel da mentira no convívio social .

Mostrei as várias formas de encarar a mentira e até classifica-la , por vezes como "um mal necessário".
Há poucos dias conversando com uma pessoa muito querida (vou chama-la de Eva ), falei da necessidade de tocar num assunto delicado com uma amiga nossa . Era imperativo que nossa amiga fosse informada de um erro no qual incorre freqüentemente , para seu próprio bem . Eva disse saber que isso era muito importante , mas não tinha coragem para fazê-lo . Apesar da intimidade entre as duas , tinha medo de magoa-la !
Que nome se dá a isso ? Omissão ? Não estaremos fingindo que está certo , o que sabemos ser errado ? Pode ser encarado como uma mentira caridosa ? Ou mentimos por covardia ?
Situações como essa nos levam a falsear a verdade , e isso é , com certeza , uma forma de mentir .
Tenho trazido textos e pesquisas científicas onde seus responsáveis apresentam teorias sobre o recurso da mentira ser utilizado como fator imprescindível à convivência humana e como forma de sobrevivência para outras categorias de vida , na Natureza .
Nesse texto são mostrados sinais que o corpo humano usa para denunciar a falsidade de uma atitude , como acontece na história infantil com o nariz do Pinóquio , que cresce toda vez que o boneco mente !
Com variados enfoques pretendo enriquecer seu conhecimento sobre esse assunto tão polêmico e ao mesmo tempo tão presente em nosso comportamento cotidiano .

Carmen Marina Sande



30 sinais de uma mentira

"Quem tiver olhos para ver e ouvidos atentos pode convencer-se de que nenhum mortal é capaz de manter segredo. Se os lábios estiverem silenciosos, a pessoa ficará batendo os dedos na mesa e trairá a si mesma, suando por cada um dos seus poros!"
Sigmund Freud


Sabemos que a honestidade é à base de qualquer relacionamento humano.
Mas, muitas vezes, as pessoas deixam de ser honestas conosco.
É de grande valor estar ciente das verdadeiras intenções de alguém, e isso vai lhe poupar tempo, dinheiro e energia.
O que você vai ler abaixo é baseado no resultado de anos de estudos na área do comportamento humano; principalmente do trabalho do Dr. David J. Lieberman - um renomado Ph.D. em Psicologia e Hipnoterapeuta - em seu livro: "Never be lied again", o qual me influenciou imensamente na produção deste material.

Lembro que não são meramente técnicas para se descobrir a verdade, mas sim técnicas poderosas e eficazes, as quais são utilizadas mundialmente por entrevistadores e interrogadores experientes.
Chegou a hora de saber as reais intenções das pessoas e impedir que elas tirem vantagem de você!
Apresento-lhe os 30 sinais de uma mentira.

O corpo nos revela a verdade.
Estudos demonstraram que numa apresentação diante de um grupo de pessoas, 55% do impacto são determinadas pela linguagem corporal - postura, gestos e contato visual -
38% pelo tom de voz e apenas 7% pelo conteúdo da apresentação .
(Mehrabian e Ferris, "Inference of attitudes from noverbal communication in two channels", in The Journal of Counselling Psychology, vol. 31, 1967, pp. 248-52).

Podemos concluir que não é o que dizemos, mas como dizemos, que faz a diferença. Sabendo disso, podemos usar a observação para nos ajudar a descobrir a verdade.

1. A pessoa fará pouco ou nenhum contato direto nos olhos;
2. A expressão física será limitada, com poucos movimentos dos braços e das mãos. Quando tais movimentos ocorrem, eles parecem rígidos e mecânicos. As mãos, os braços e as pernas tendem a ficar encolhidos contra o corpo e a pessoa ocupa menos espaço;
3. Uma ou ambas as mãos podem ser levadas ao rosto (a mão pode cobrir a boca, indicando que ela não acredita - ou está insegura - no que está dizendo). Também é improvável que a pessoa toque seu peito com um gesto de mão aberta;
4. A fim de parecer mais tranqüila, a pessoa poderá se encolher um pouco;
5. Não há sincronismo entre gestos e palavras;
6. A cabeça se move de modo mecânico;
7. Ocorre o movimento de distanciamento da pessoa para longe de seu acusador, possivelmente em direção à saída;
8. A pessoa que mente reluta em se defrontar com seu acusador e pode virar sua cabeça ou posicionar seu corpo para o lado oposto;
9. O corpo ficará encolhido. É improvável que permaneça ereto;
10. Haverá pouco ou nenhum contato físico por parte da pessoa durante a tentativa de convencê-lo;
11. A pessoa não apontará seu dedo para quem está tentando convencer;
12. Observe para onde os olhos da pessoa se movem na hora da resposta de sua pergunta. Se olhar para cima e à direita, e for destra, tem grandes chances de estar mentindo.
13. Observe o tempo de demora na resposta de sua pergunta. Uma demora na resposta indica que ela está criando a desculpa e em seguida verificando se esta é coerente ou não. A pessoa que mente não consegue responder automaticamente à sua pergunta.
14. A pessoa que mente adquire uma expressão corporal mais relaxada quando você muda de assunto.
15. Se a pessoa ficar tranqüila enquanto você a acusa, então é melhor desconfiar. Dificilmente as pessoas ficam tranqüilas enquanto são acusadas por algo que sabem que são inocentes. A tendência natural do ser humano é manter um certo desespero para provar que é inocente. Por outro lado, a pessoa que mente fica quieta, evitando a todo custo falar de mais detalhes sobre a acusação;
16. Quem mente utilizará as palavras de quem o ouve para afirmar seu ponto de vista;
17. A pessoa que mente continuará acrescentando informações até se certificar de que você se convenceu com o que ela disse;
18. Ela pode ficar de costas para a parede, dando a impressão que mentalmente está pronta para se defender;
19. Em relação à história contada, o mentiroso, geralmente, deixa de mencionar aspectos negativos;
20. Um mentiroso pode estar pronto para responder as suas perguntas, mas ele mesmo não coloca nenhuma questão.
21. A pessoa que mente pode utilizar as seguintes frases para ganhar tempo, a fim de pensar numa resposta (ou como forma de mudar de assunto): "Por que eu mentiria para você?", "Para dizer a verdade...", "Para ser franco...", "De onde você tirou essa idéia?", "Por que está me perguntando uma coisa dessas?", "Poderia repetir a pergunta?", "Eu acho que este não é um bom lugar para se discutir isso", "Podemos falar mais tarde a respeito disso?", "Como se atreve a me perguntar uma coisa dessas?";
22. Ela evita responder, pedindo para você repetir a pergunta, ou então responde com outra pergunta;
23. A pessoa utiliza de humor e sarcasmo para aliviar as preocupações do interlocutor;
24. A pessoa que está mentindo pode corar, transpirar e respirar com dificuldade;
25. O corpo da pessoa mentirosa pode ficar trêmulo: as mãos podem tremer. Se a pessoa estiver escondendo as mãos, isso pode ser uma tentativa de ocultar um tremor incontrolável.
26. Observe a voz. Ela pode falhar e a pessoa pode parecer incoerente;
27. Voz fora do tom: as cordas vocais, como qualquer outro músculo, tendem a ficar enrijecidos quando a pessoa está sob pressão. Isso produzirá um som mais alto.
28. Engolir em seco: a pessoa pode começar a engolir em seco.
29. Pigarrear: Se ela estiver mentindo têm grandes chances de pigarrear enquanto fala com você. Devido à ansiedade, o muco se forma na garganta, e uma pessoa que fala em público, se estiver nervosa, pode pigarrear para limpar a garganta antes de começar a falar.
30. Já reparou que quando estamos convictos do que estamos dizendo, nossas mãos e braços gesticulam, enfatizando nosso ponto de vista e demonstrando forte convicção? A pessoa que mente não consegue fazer isso. Esteja atento.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Consumo de Drogas na Adolescência


São tantos os pedidos de ajuda e de orientação , que mais uma vez volto ao assunto das drogas .
Neste artigo fala-se da adolescência como sendo a época da iniciação nas drogas .
Infelizmente isso não corresponde mais à realidade . Temos notícias de crianças entre 8 e 9 anos fazendo uso delas .
E não estou me referindo apenas às crianças da população de rua .
Ao considerarmos o cigarro como droga letal que é , seria hipocrisia afirmarmos que esse é um problema de agora .
Todos reconhecemos que muitos fumantes se iniciaram no vício ainda crianças , lógico que escondidos dos pais .
Por ser uma droga lícita e socialmente permitida , apenas muito recentemente o tabagismo vem sendo condenado . Apesar de prejudicial à saúde , é tolerado por não alterar o comportamento , nem a percepção do fumante .
O que já não se aplica ao álcool , que mesmo sendo socialmente permitido e bastante glamourizado , é o principal responsável por acidentes no trânsito .
Carmen Marina Sande


Adolescência e consumo de substâncias psicoativas: riscos e reflexos para a vida

No senso comum, utiliza-se o termo droga para se referir às drogas ilícitas, como a maconha, o crack e a cocaína, excluindo o tabaco e o álcool.

Em artigos mais recentes o termo substâncias psicoativas já é usado para determinar o conjunto de drogas, medicamentos ou toxinas cujo consumo pode causar danos à saúde.
A abordagem sobre o consumo de substâncias psicoativas entre adolescentes e adultos jovens na sociedade brasileira deve estar associada a três fenômenos: as mortes associadas ao processo de violência urbana; a epidemia do vírus HIV/AIDS e outros agravos à saúde física e mental.
Ao se tratar de menores em situação de rua, estudos recentes mostram um consumo intenso e freqüente de solventes e maconha, mas também incluem tabaco, álcool e cocaína. Este fato é agravado por condições biológicas, relacionadas à desnutrição, doenças sexualmente transmissíveis e verminoses; também por condições psicossociais relacionadas à exposição à violência policial e desagregação familiar.
O consumo de solventes orgânicos (acetona, éter, cola de sapateiro) destaca-se dentre as substâncias psicoativas consumidas não apenas entre menores em situação de rua, mas também entre estudantes de periferia e universitários.
Os profissionais de saúde têm um papel importante na prevenção e identificação de fatores de risco associados ao consumo de substâncias psicoativas, pois as conseqüências podem ser graves e requer encaminhamentos para tratamento de abuso e dependência.
A intervenção em casos de experimentação pode ter um efeito positivo.
Alguns sinais que podem ajudar os profissionais e a família a reconhecer o uso de droga pelo adolescente é emagrecimento, olhos vermelhos, irritação nasal, desinibição, agitação, sonolência, problemas com os professores, falta às aulas, suspensão, repetência e expulsão escolares e problemas na família.
As conseqüências do consumo de substância psicoativas podem ser violência física e moral, incluindo homicídio, e violência pelo tráfico de drogas além da disseminação do HIV. Há uma complexa relação entre consumo de substâncias psicoativas e prática de sexo desprotegido, que merece atenção especial nas ações de prevenção.
Em contrapartida, uma família com laços afetivos profundos, cujos pais participam da vida de seus filhos, um bom aproveitamento escolar, a participação em grupos de convívio e adoção de medidas para controle de propaganda e venda de substância psicoativas lícitas e ilícitas podem ter um impacto positivo na vida dos adolescentes, atuando como fatores protetores.
Este artigo publicado pela Revista Adolescer objetiva reconhecer a realidade dos jovens em situação de uso de drogas e sugerir medidas de auxilio como:
promover e difundir informações sobre drogas e seus efeitos na saúde;
estimular ações que valorizem a auto-estima e o auto-cuidado;
ações sociais como capacitar os profissionais de saúde;
promover ações integradas com os agentes comunitários de saúde para fornecer informações às famílias no seu ambiente social e cultural;
estabelecer parceria com a escola para desenvolver ações educativas voltadas diretamente às crianças e adolescentes;
incentivar o processo de comunicação familiar com base na amorosidade, acolhimento, através de atitudes não julgadora ou preconceituosa.
Autor: PEREIRA, S. M.
Fonte: OBID

sábado, 17 de maio de 2008

Ficções da Mente


Continuando o raciocínio de que somos muito mais passíveis de enganos do que costumamos acreditar , vou citar apenas alguns trechos de uma reportagem .
Por ser ela bastante longa e conter algumas experiências com pacientes que sofreram acidentes cerebrais , transcrevo apenas as conclusões a que chegaram os cientistas , sobre o funcionamento do nosso cérebro .
Já havia afirmado anteriormente que nosso cérebro é precipitado em suas conclusões , nem sempre correspondendo à verdade .
Muitas de nossas decisões partem do inconsciente , antes que o nosso consciente racional tenha tido tempo se sancioná-las .
É o que justificamos como "agir sem pensar" .
Só que o que julgamos , durante muito tempo , ser uma atitude atípica e tresloucada , é muito freqüente no dia-a-dia de todos nós .
Não somos senhores do nosso livre arbítrio .
Na maioria das vezes , agimos sem pensar .
Damos respostas que são fabricadas apressadamente em bases às vezes nada confiáveis .
Informações , recordações , lembranças , nem sempre são tão verdadeiras quanto julgamos .
Carmen Marina Sande


Reportagem
edição 169 - Fevereiro 2007 -Revista Mente&Cérebro


Ficções da Mente
Acreditar nas histórias que inventamos é mais comum do que se imagina. Estudos mostram que a confabulação está na gênese da compreensão do mundo.
por Helen Philips
Crianças geralmente confabulam quando pedimos que falem sobre assuntos que não conhecem .
Em uma das últimas vezes que vi minha avó, ela falou animada sobre o filho que estava longe, estudando na universidade. Parecia absolutamente convicta e muito orgulhosa, apesar de também reconhecer que seu único filho, sentado ao nosso lado, já tinha idade para se aposentar. Sem aparentar confusão ou angústia, seu relato era lúcido e complexo, como se uma história perfeitamente plausível tivesse saltado de algum ponto do passado para o vazio de sua memória recente. Muitas pessoas idosas desenvolvem gradualmente amnésia para acontecimentos recentes, ao passo que as lembranças da juventude se mantêm ricas e detalhadas. Costumam inventar histórias para esconder seu constrangimento em relação aos lapsos, e em geral têm noção de que sua memória é confusa. Depois de uma série de derrames, o tipo de histórias que minha avó contava era um pouco diferente - os neurologistas as chamam confabulação, uma história ou memória fictícia da qual se tem certeza da veracidade. Não é mentira, pois não há intenção de enganar, e as pessoas parecem acreditar no que estão dizendo. Até recentemente isso era visto apenas como deficiência neurológica, um sinal de que algo está errado. Atualmente, no entanto, sabe-se que pessoas saudáveis também recorrem a essa prática."A confabulação é sem dúvida mais que o resultado de um déficit na memória", afirma o neurologista e filósofo William Hirstein, da Faculdade de Elmhurst, em Chicago, e autor do livro Brain fiction, de 2005. Crianças e adultos confabulam quando pressionados a falar sobre algo de que não têm nenhum conhecimento, ou após uma sessão de hipnose. Isso levanta dúvidas sobre a precisão dos depoimentos de testemunhas. Na verdade, todos nós podemos confabular de forma rotineira conforme tentamos racionalizar decisões ou justificar opiniões. Por que você me ama? Por que comprou aquela roupa? Por que escolheu determinada carreira? De forma mais extrema, alguns especialistas defendem que nunca temos a certeza do que é realidade, então precisamos confabular o tempo todo para tentar compreender o mundo à nossa volta.A confabulação foi mencionada pela primeira vez na literatura médica no final da década de 1880 pelo psiquiatra russo Sergei Korsakoff (1853-1900). Ele descreveu um tipo distinto de déficit de memória apresentado por pessoas que abusaram do álcool ao longo de muitos anos. Esses indivíduos não tinham memória de eventos recentes, e preenchiam as lacunas espontaneamente com histórias algumas vezes fantásticas e impossíveis.


TESTE DE REALIDADE
O neurologista Oliver Sacks, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, escreveu sobre um homem com a síndrome de Korsakoff em seu livro O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, de 1985. O senhor Thompson nunca lembrava onde estava e por que, ou quem era seu interlocutor, mas inventava explicações elaboradas para as situações em que se encontrava. Se uma pessoa entrava na sala, por exemplo, ele a cumprimentava como se fosse um cliente de sua loja. Um médico de jaleco branco podia se tornar o açougueiro. Para o senhor Thompson essas ficções eram plausíveis, e ele parecia não perceber que elas se modificavam o tempo todo. Comportava-se como se seu mundo improvisado fosse um lugar perfeitamente normal e estável.
Outros que também compartilham o hábito de contar histórias - e acreditar nelas - são aqueles que sofreram aneurisma ......
Essas pessoas têm amnésia profunda, mas não parecem notar o problema e confabulam para preencher as lacunas. A mesma coisa pode acontecer com as que têm a doença de Alzheimer e outras formas de demência, bem como com quem teve o cérebro lesionado por um derrame.O neurologista Armin Schnider, do Hospital da Universidade Cantonal de Genebra, diz que a vasta maioria das confabulações que escutou de seus pacientes até hoje se relacionava de forma direta ao início de sua vida. Um deles, dentista aposentado há décadas, preocupava-se muito pelo fato de deixar seus pacientes esperando. Uma mulher idosa falava do filho como se ele ainda fosse bebê. A maioria desses pacientes tinha lesões ........ região estreitamente relacionada à memória. Parecia provável que eles tivessem de alguma forma perdido a capacidade de criar novos registros mnemônicos, por isso passaram a acessar os antigos. Era intrigante o fato de não perceberem isso; estavam convencidos de suas histórias, alguns até agiam com base nelas....
....Assim, o problema dos confabuladores não é necessariamente não conseguir criar novas memórias, mas confundir lembranças e instante presente.
....O pesquisador acredita que todos temos um mecanismo pré-consciente que distinguiria a realidade atual da fantasia, ou de uma memória sem grande importância. "O cérebro decide muito antes de o pensamento se tornar consciente", diz.....
.... O processo de decisão, rápido demais para a percepção, também se dá de forma inconsciente. "Nosso cérebro distingue fato de ficção bem antes de termos acesso aos nossos pensamentos", conclui Schnider....
....Segundo o neurocientista Morten Kringelbach, da Universidade de Oxford.....,
.... De qualquer forma, quando a informação recebida é incompleta ou contraditória, há um esforço extra para fazer as coisas se encaixarem - e o resultado disso é a ficção. Kringelbach suspeita, porém, que as pessoas não confabulam apenas quando há algo errado....
Experimentos feitos pelo filósofo Lars Hall, da Universidade de Lund, Suécia, desenvolveram ainda mais essa idéia......
..... A confabulação poderia ser uma rotina para justificar as escolhas cotidianas? Quem sabe.Há muitas evidências de que boa parte do que fazemos seja resultado do processamento inconsciente. Em 1985, Benjamin Libet, da Universidade da Califórnia em San Francisco, sugeriu que um sinal para mover um dedo é "visualizado" no cérebro vários milésimos de segundo antes de alguém estar ciente de que pretendia movê-lo. A idéia de livre-arbítrio pode, portanto, ser mera ilusão. "Não temos acesso a todas as informações nas quais baseamos nossas decisões, por isso criamos ficções para racionalizá-las", diz Kringelbach. Segundo ele, isso deve ser bom, pois talvez ficássemos paralisados se fôssemos cientes de como tomamos cada decisão. Wilson concorda e fornece números: estudos indicam que nossos sentidos podem captar mais de 11 milhões de fragmentos de informação por segundo, ao passo que a estimativa mais otimista sugere que apenas 40 sejam percebidos conscientemente. Talvez tudo que nossa mente faça seja imaginar histórias para entender o mundo. "Fica em aberto a possibilidade de que, no extremo, todo mundo confabule o tempo todo", diz Hall.
- Tradução de Julio Oliveira

Lembranças confusas
A tendência de confabular pode causar preocupação quando o assunto é a psicologia do testemunho. Com que facilidade histórias inventadas se convertem em falsas memórias? A psicóloga Maria Zaragoza, da Universidade Estadual Kent, em Ohio, mostrou um vídeo a um grupo e depois fez perguntas individuais com a resposta sutilmente sugerida na própria pergunta. Quando os indivíduos não conseguiam responder - porque a informação simplesmente não estava na fita -, a pesquisadora os encorajava a inventá-la. As pessoas ficavam constrangidas, diziam que não sabiam e estavam apenas inventando uma resposta. Uma semana depois, porém, mais da metade confirmou suas declarações falsas como se fossem verdadeiras. Outro estudo revelou que crianças se comportam da mesma maneira. Quando perguntaram a elas se o homem da manutenção, que elas viram numa sala de espera, havia quebrado algo que na verdade nem havia tocado, todas disseram que nada viram ou que o homem não tinha culpa de nada. Então se pediu que elas inventassem uma história na qual ele havia quebrado coisa alguma. Na semana seguinte, muitas crianças acreditavam em suas próprias mentiras. Assim como nos adultos, o efeito foi mais evidente quando o pesquisador forneceu um feedback positivo, dizendo à pessoa que a resposta inventada era a correta.Para Zaragoza, esses resultados alertam
para a forma como os testemunhos judiciais são feitos e colocam em xeque sua credibilidade. Pelo mesmo motivo o uso da hipnose como técnica forense foi muito criticado nos anos 80. Nessa época a psicóloga Jane Dywan, da Universidade de Brock, em Ontário, conduziu um estudo no qual mostrou fotos a cada participante e depois testou sua capacidade de recordar nos dias seguintes. Uma semana depois, hipnotizou os mesmo sujeitos e perguntou o que conseguiam lembrar. Todos tiveram mais recordações do que antes, mas quase todas eram falsas. Segundo Dywan, a hipnose aumenta o foco de atenção e a facilidade com que as informações vem à tona, e isso pode nos dar maior familiaridade em relação às memórias falsas, que normalmente só teríamos com as verdadeiras. "Combine essa confiança a uma maior capacidade de lembrar e teremos uma situação perigosa", diz a psicóloga.
...... Qualquer traço de memória ativado, pertinente ou não, pode guiar o pensamento e o comportamento.
Fonte: Spontaneous confabulations, disorientation and the processing of "now". A. Schnider, em Neuropsychologia, vol. 38, págs. 175-185, 2000.

Para conhecer mais
O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. O. Sacks. Companhia das Letras, 1997. Brain fiction. William Hirstein. MIT Press, 2005.

One cause for all confabulations? A. Schnider, em Science, vol. 27, pág. 1262, 2005.
Helen Philips é jornalista © New Scientist.
© Duetto Editorial. Todos os direitos reservados.

http://www.mentecerebro.com.br/

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Auto - estima




Para uma vida mentalmente saudável e equilibrada é imprescindível que se tenha auto-estima elevada .
E não é importante apenas para uma boa recuperação dos dependentes de drogas . Mas para todos que se percebem com problemas geradores de sofrimento e decidem recuperar o controle e o prazer de viver .
Para viver com qualidade e se sentir apto a enfrentar as dificuldades que surgem no percurso , precisam contar com sua auto-estima , responsável pela estabilidade emocional .
Não se amando , não confiará em si próprio e terá dificuldades frente aos obstáculos , mesmo os mais simples . O medo assusta , desencoraja , incapacitando .
Quem acredita no seu valor não se acovarda , sente segurança e confia na sua competência .
Cria ! Ousa !
Somente assim pode tentar viver sua vida em plenitude , realizando seu potencial .
Carmen Marina Sande




Auto-estima: essencial para uma boa recuperação


Segundo psicólogos, a auto-estima começa a sofrer influência ainda na infância, a partir do tratamento que recebemos de outras pessoas.

As experiências adquiridas quando criança irão refletir na auto-estima do adulto.
Entretanto, decepções, frustrações, situações de perda, ou o sentimento de falta de reconhecimento abalam a auto-estima.
Se a auto-estima está baixa, a pessoa se sente insegura, incapaz, sem uma clara compreensão sobre quem ela é e onde pretende chegar.
Quando em alta, a auto-estima faz bem para a vida e ajuda o indivíduo conhecer melhor a si próprio, entender melhor seus limites e suas capacidades.

Em um tratamento clínico contra a dependência química, reforçar a auto-estima do paciente é fundamental. É o que comenta a Dra. Claudia O. Soares, Diretora Clínica da Unidade de Tratamento do Grupo Viva.
Para Cláudia, logo quando entra na clínica, voluntária ou involuntariamente, o cliente deve, sim, entender que está doente, que esta doença não tem cura, mas tem controle, e que irá passar por um tratamento.

“Mas nós, como profissionais da saúde, temos que fazê-lo entender que ele não é a pior pessoa no mundo, por causa disso”, diz.
“Nós temos é que dar apoio para mostrar que ele pode e vai se levantar, se ele realmente quiser isso”, completa.
Portanto, segundo ela, com a ajuda de psicólogos, psiquiatras, terapeutas, educadores e vários outros profissionais, é fundamental fazer o paciente entender que ele pode dar a volta por cima e tornar a viver com dignidade ao lado de sua família e de seus amigos, desde que também lute por isso.
Para os psicólogos que atuam Grupo Viva, a auto-estima elevada do paciente faz com que o tratamento flua com mais naturalidade, uma vez que ele passa a aceitar melhor a ajuda que recebe, com esperança de viver uma realidade melhor após sua estada na Clínica.


Grupo Viva [ej@env3.carteiroxpress.com]

RESPONSABILIDADE: Confie seu filho ou parente a uma Clínica Médica e Terapêutica que esteja
apta e regular junto aos orgãos competentes, principalmente para o
Tratamento Involuntário.

sábado, 10 de maio de 2008

Dificuldade com a Diferença

Temos muita dificuldade para lidar com o que é diferente dos nossos hábitos ou do que gostamos e entendemos como o bom , o certo e o melhor .
É comum que ao contratarmos um empregado , queiramos ensinar a ele nossos hábitos e nossos gostos sem tentar conhecer a bagagem que ele traz . De antemão nos achamos superiores em qualidade .
Num determinado dia , algo acontece e não temos tempo de passar nossas instruções . O servidor é forçado a decidir o que fazer . E qual não é a nossa surpresa ao chegar e constatar que o improviso é uma solução excelente que nunca havia nos ocorrido !
Nunca havíamos criado espaço para conhecer a experiência do outro .
Não nos arriscamos no novo .
O hábito venceu a ousadia e nos condenamos a viver presos à mesmice .
Aceitar a novidade e mesmo buscar o novo , são demonstrações de mente aberta à evolução . Reconhecer e mudar para melhor são provas de inteligência . Saber ouvir deixando espaço para conhecer os argumentos do outro e até deixar-se convencer , se rendendo , é sabedoria .
Por que querer sempre ter a última palavra ?
Por que ser dono da verdade ?
O que é diferente do que pensamos não precisa , necessariamente , ser entendido como errado .
Carmen Marina Sande





SÁBIO CHINÊS



Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado..
Ele se vira para o chinês e pergunta:- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?

E o chinês responde:- Sim, quando o seu vier cheirar as flores!!!


"RESPEITAR AS OPÇÕES DO OUTRO, EM QUALQUER ASPECTO,É UMA DAS MAIORES VIRTUDES QUE UM SER HUMANO PODE TER."


"AS PESSOAS SÃO DIFERENTES, AGEM DIFERENTE , PENSAM DIFERENTE. NUNCA JULGUE. APENAS COMPREENDA!!" E aprenda !
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Diferenças não são defeitos
Roberto Shinyashiki

Sendo cada ser humano único e diferenciado, só existe um modo de possibilitar a vivência a dois: o conhecimento e o respeito das diferenças de cada um, que precisam ser aceitas e ajeitadas pelo casal.
Só assim a riqueza das diferenças do casal pode criar algo novo e especial na relação.
Se duas pessoas são distintas, pensam de modos diferentes e atuam em estilos diversos, sua união pode oferecer mais alternativas e maiores possibilidades, já que a soma das experiências e características do casal é bem maior do que seria, caso eles fossem muito parecidos.
É comum os dois desejarem coisas diferentes, simultaneamente. Pode ser que um queira comprar novos móveis e o outro fazer uma viagem.
Em vez de ficar dizendo um ao outro que o desejo dele é bobagem, é muito mais eficaz organizar o orçamento familiar, de forma a conseguir atender aos dois.
Não adianta querer convencer o outro de que a vontade dele é desnecessária e sem razão, porque isso vai acabar gerando insatisfação e produzirá focos de conflitos em outras áreas.
É fundamental termos claro, em nossas mentes, as coisas em que somos diferentes um do outro e o que é de real importância modificarmos, para que o relacionamento não apenas sobreviva, mas seja um crescer contínuo.
É importante saber que o limite que cada um de nós tem hoje, tanto poderá ser mantido, como poderá evoluir e aumentar as possibilidades de aceitação e mudança. Isto será um passo à frente do ponto de equilíbrio, em busca do encontro com o amor. Mas se você usa a fórmula de encontrar defeitos nas outras pessoas para livrar-se de situações embaraçosas, que você não quer enfrentar, pergunte-se como estará daqui a dez anos se continuar com esta conduta.
Por acaso, para dissolver qualquer tipo de vínculo amoroso, você começa a colocar defeitos no parceiro ou então procura outra pessoa, fora da relação, para servir de “carona”?
Caso você queira evitar intimidades e se esquivar de uma entrega à alguém, a solução mais fácil é encontrar defeitos.
Isso porque, se o outro tem muitos defeitos, você se sente especial, com mais qualidades, e assim, está se valorizando à custa dos defeitos dele.
Não necessitamos destruir ninguém para sermos livres, valorizar-nos, ou para decidir se é bom ou ruim nos entregarmos inteiramente a alguém.
Geralmente a pessoa que põe defeito no outro guarda uma tristeza, lá do passado. Possivelmente, alguém a criticava muito quando criança.
A maior parte dos nossos comportamentos são aprendidos, e muito do que se considera defeito, na verdade, é apenas diferença.
Quando duas pessoas estão empenhadas em manter uma relação saudável e gratificante, ambas fazem mudanças e concessões.
Uma das coisas mais importantes, e lamentavelmente raras na relação, é perceber que o outro mudou. Os dois mudam e crescem juntos, ou a mudança e o crescimento apenas de um vai ameaçar muito o ponto de equilíbrio do outro.
Portanto,é básico, na caminhada para o amor, que o casal programe seus passos o mais próximo possível um do outro.

Roberto Shinyashiki

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Casamento , Frescobol e Tênis




Pouco ou nada há a acrescentar a esse inspiradíssimo texto de Rubem Alves .



De fato , o que se deveria esperar de uma relação ?
Se pessoas mentalmente saudáveis estão juntas é porque devem se fazer bem . Devem se propiciar apoio e o que mais seja necessário para que tudo aconteça da melhor maneira possível para ambos . Querem o bom e o bem mútuo . Querem se fazer felizes . Deve reinar uma cumplicidade para que um supra a necessidade do outro . Os dois querem ganhar felicidade . Estão empenhados nisso . Estarão atentos para que não haja falhas e se surgirem não se quer saber quem a causou , os dois correrão para conserta-la para que , rapidamente volte a reinar a harmonia e o prazer .
Serão uma equipe com o mesmo objetivo e falando a mesma lingua .
A meta é viver com qualidade para que a felicidade seja o limite .
Serão campeões no frescobol !

Carmen Marina Sande



Casamento, Frescobol e Tênis
Por Rubem Alves


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que, os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: Há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa. Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice"? Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar."
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme "O Império dos Sentidos". Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fosse música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo..."
Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada". "É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética". Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma " .

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.
Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua "cortada" , palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois, o que se deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado.
Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres.Bola vai, bola vem - cresce o amor...
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...


* Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp.

Somos Mentirosos Natos


No dia 1º de abril ,chamado de Dia Oficial da Mentira , ouvi que no resultado de uma pesquisa , concluiram que nós , seres humanos , costumamos mentir 200 vezes ao dia . Parece um número exagerado , mas se refletirmos com calma , veremos que essa afirmação faz sentido .
Um bom exemplo disso é o personagem vivido na TV Globo por Luís Fernando Guimarães , que por só dizer a verdade , está sempre metido em situações complicadas , envolvendo também quem está à sua volta .
Realmente a sinceridade levada ao extremo torna o convívio social inviável . Lembro de minha mãe comentando sobre uma pessoa das nossas relações que se dizia autêntica e falava o que pensava sem medir as conseqüências . Mamãe classificava a autenticidade como grosseria e falta de educação . O que quase prova que a mentira é politicamente correta .
Nós , que trabalhamos com a psicologia , temos que assumir nossa responsabilidade , por fornecermos as armas com que a publicidade , por exemplo , leva os consumidores a compras não desejadas sem se darem conta disso . Não deixa de ser uma forma mentirosa de enganar o público .Usamos esse recurso para iludir , também , a nós mesmos .
Essa é uma das partes mais interessantes desse texto que lhes trago . Chama a atenção para como somos trapaceiros e temos como principal vítima ,a nós mesmos !
Mas como o pobre Pinóquio , que era denunciado pelo crescimento de seu nariz , quando mentia , nós , também , podemos ser traídos por algumas demonstrações do nosso corpo , como tremor, suor , rubor das faces ou palidez .Mas isso não parece o suficiente para nos inibir .
São conhecidas as tentativas dos freqüentadores de SPAs para burlarem as normas e conseguir comida e doces . Pagam verdadeira fortuna para perder peso e oferecem gorjetas aos empregados para conseguir chocolate ou um pedaço de pizza . Isso quando não tentam contrabandear leite condensado nos frascos de shampoo e condicionador ! Estão ludibriando a si próprios .
Ou os que dizem que pararam de fumar e fumam escondido .
E os que fazem dieta durante o dia e atacam a geladeira na calada da noite .
Mas no texto abaixo vamos descobrir que a mentira e a dissimulação não são recursos usados apenas pelos seres humanos , elas são fontes de sobrevivência para várias espécies na Natureza .
O camaleão , que se camufla para ser confundido com o meio ambiente , e assim iludir seus predadores , é um bom exemplo disso .
Esse texto é embasado em pesquisas científicas feitas em várias Universidades e se utiliza das descobertas mais atuais da Neurociência .
Carmen Marina Sande











Reportagem
edição 153 - Outubro 2005


Mentirosos Inatos
Por que mentimos,e por que somos tão bons nisso? A resposta é simples: porque funciona.
por David Livingstone Smith



A dissimulação atravessa toda a história da humanidade, nutrindo a literatura desde o astuto Ulisses de Homero aos livros de maior sucesso popular de hoje. Uma ida ao cinema, e é grande a probabilidade de que o filme aborde alguma forma de ardil. Tais histórias talvez nos sejam muito fascinantes porque o mentir permeia a vida humana.Mentir é uma habilidade que brota das profundezas de nosso ser, e nós a usamos sem cerimônia.
Como escreveu o grande observador americano Mark Twain há mais de um século: "Todos mentem... todo dia, toda hora, acordado, dormindo, em sonhos, nos momentos de alegria, nos momentos de tristeza. Ainda que a boca permaneça calada, as mãos, os pés, os olhos, a atitude transmitem falsidade". Enganar é fundamental para a condição humana. A convicção de Twain é validada por pesquisa.

Um bom exemplo é um estudo realizado em 2002 pelo psicólogo Robert S. Feldman, da Universidade de Massachusetts, em Amherst. Feldman filmou em vídeo estudantes que haviam sido solicitados a conversar com desconhecidos. Posteriormente, pediu que analisassem as fitas e calculassem o número de mentiras que haviam contado. Uma considerável porcentagem de 60% admitiu ter mentido pelo menos uma vez durante os dez minutos de conversação, e a média do grupo nesse período foi de 2,9 inverdades. As transgressões variaram de exageros propositais a mentiras deslavadas. O interessante é que, embora homens e mulheres tenham mentido com a mesma freqüência, Feldman constatou que as mulheres pareceram mais propensas a mentir para fazer com que o desconhecido se sentisse bem, enquanto os homens mentiram mais para se valorizar.

Em outro estudo dos anos 90, realizado por David Know e Caroline Schacht, ambos agora na Universidade da Carolina do Leste, 92% de estudantes universitários confessaram ter mentido para uma parceira sexual, atual ou anterior, o que fez os pesquisadores se perguntarem se os restantes 8% também não teriam mentido. E, embora há muito se saiba que os homens tendem a mentir sobre o número de suas conquistas sexuais, pesquisa recente mostra que as mulheres tendem a minimizar seu grau de experiência sexual.Quando solicitadas a preencher questionários sobre seu comportamento e postura sexual, as mulheres que foram ligadas a um detector de mentiras fictício relataram ter tido o dobro de casos que as que não foram, demonstrando as últimas menos honestidade em suas respostas. É irônico que os pesquisadores tenham tido de usar de um artifício enganoso para conseguir delas a verdade.
Tais referências são apenas alguns dos muitos exemplos do hábito de mentir que apimentam os registros científicos. E ainda assim a pesquisa a respeito quase sempre focaliza o mentir em seu sentido mais estreito - literalmente dizer coisas que não são verdadeiras.

Mas nosso fetiche vai muito além da falsidade verbal. Mentimos por omissão e por intrincadas sutilezas. Estamos também empenhados em incontáveis formas de tapeações não-verbais: usamos maquilagem, perucas, cirurgias cosméticas, vestuário e outras formas de adorno para disfarçar nossa verdadeira aparência e fragrâncias artificiais para dissimular os odores de nosso corpo. Choramos lágrimas de crocodilo, fingimos orgasmos, disparamos "bom dia!" com sorrisos falsos.

Mentiras verbais são apenas uma pequena parte da vasta tapeçaria de falsidade humana.

A pergunta óbvia que todo esse relato suscita é: por que mentimos com tanta facilidade? E a resposta: porque funciona.

O Homo sapiens que melhor consegue mentir leva vantagem sobre seus pares na luta incansável para o sucesso reprodutivo que move a máquina da evolução.Como humanos, devemos nos enquadrar em um sistema social fechado para sermos bem-sucedidos, ainda que nosso alvo principal seja nos colocarmos acima de todos os demais. Mentir ajuda.

E mentir para nós mesmos - um talento desenvolvido por nosso cérebro - ajuda-nos a aceitar nosso comportamento fraudulento.

Passaporte para o Sucesso

Se essa verdade crua nos incomoda, podemos encontrar certo consolo ao pensar que não somos a única espécie a explorar a mentira.Plantas e animais comunicam-se entre si por sons, rituais exibicionistas, cores, aromas e outros métodos, e os biólogos ingenuamente chegaram a supor que a única função desses sistemas de comunicação fosse transmitir informações precisas. Quanto mais aprendemos sobre essas espécies, mais claro fica o quanto se esforçam para enviar mensagens imprecisas.
A orquídea Ophry speculum, por exemplo, exibe lindas flores azuis que se assemelham a vespas do sexo feminino. A flor também fabrica um coquetel químico que simula os feromônios liberados pelas fêmeas para atrair parceiros. Essas pistas visuais e olfativas mantêm os pobres machos na flor o tempo suficiente para garantir que uma boa quantidade de pólen seja aderida ao corpo até que voem para tentar a sorte no disfarce de outra orquídea. É claro que a orquídea não tem a intenção de enganar a vespa. A camuflagem faz parte de seu desenho físico porque, no decorrer da história, as plantas com essa capacidade conseguiram transmitir com mais facilidade seus genes.

Outros seres também empregam estratégias enganadoras.

Quando um predador se aproxima da inofensiva cobra Heterodon platyrhino, o formato de sua cabeça muda, ela se transveste em peçonhenta e, sibilando ameaçadoramente, se posta como se fosse atacar, mantendo, contudo, a boca discretamente fechada.

Esses casos e outros mostram que a natureza favorece o engodo por vantagens de sobrevivência. Os artifícios se tornam mais sofisticados quanto mais próximo se chega ao Homo sapiens na cadeia evolutiva.

Reflita sobre esse incidente entre Mel e Paul: Mel cavava furiosamente com as mãos o rochoso solo etiopiano para extrair um tipo de bulbo grande e suculento. Estavam na estação da seca, e a comida era escassa. Esses bulbos comestíveis, parecidos com os da cebola, são o principal alimento durante os longos e difíceis meses da estação. O pequeno Paul estava sentado a pouca distância de Mel e observava seu trabalho. A mãe o deixara brincando na grama, e, embora não estivesse à vista, Paul sabia que ela o ouviria se precisasse dela. Quando Mel finalmente conseguiu, com um puxão, arrancar seu prêmio da terra, Paul soltou um grito estridente de abalar a paz da savana. A mãe voou para ele. Coração disparado e adrenalina a toda, ela entrou em cena e rapidamente avaliou a situação: Mel havia obviamente ameaçado seu querido filho. Aos berros, ela irrompeu sobre a desnorteada Mel, que largou o bulbo e fugiu. O esquema de Paul estava completo. Após uma olhada furtiva para ter certeza de que ninguém estava vendo, avançou sobre o bulbo e começou a comê-lo. O truque deu tão certo que ele o usou várias vezes antes que alguém percebesse.

Os atores nesse drama da vida real não eram pessoas. Eram macacos babuínos chacma, descritos, em 1987, pelos primatologistas Richard V. Byerne e Andrew Whiten, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, em um artigo da revista New Scientist. O fato foi posteriormente recontado no livro de Byrne, de 1995, The thinking ape. Em 1983 Byrne e Whiten começaram a notar táticas enganosas entre os babuínos das montanhas em Drakensberg, África do Sul. Os primatas "Catarrhini", grupo que inclui os macacos do Velho Mundo e nós mesmos, são todos capazes de taticamente ludibriar membros de sua própria espécie. Não é com a aparência que enganam, como a da orquídea citada, nem com rotinas comportamentais, como as da cobra. O repertório dos primatas é calculado, flexível e muito sensível aos contextos de mudança social.Byrne e Whiten catalogaram muitas dessas observações e a partir delas desenvolveram sua celebrada hipótese de inteligência maquiavélica.
Segundo essa teoria, a extraordinária explosão da inteligência na evolução dos primatas foi impulsionada pela necessidade de dominar formas cada vez mais sofisticadas de trapaças e manipulações sociais. Os primatas tiveram de ficar espertos para acompanhar o desenvolvimento do jogo social. A hipótese da inteligência maquiavélica sugere que a complexidade social impulsionou nossos ancestrais a se tornarem cada vez mais inteligentes e adeptos a alterar rotas, negociar, blefar e conluir.

Isso significa que ser mentiroso é inato aos humanos. E, em linha com outras tendências evolucionárias, nosso talento para dissimulação supera o de nossos parentes mais próximos em várias ordens de grandeza.

A coreografia complexa do jogo social permanece central em nossa vida hoje. Aqueles que melhor enganam continuam a acumular vantagens negadas a seus pares mais honestos ou menos competentes. A mentira nos ajuda a facilitar interações sociais, manipular os outros e fazer amigos. Existe até uma correlação entre popularidade social e habilidade de enganar. Falsificamos nossos currículos para conseguir emprego, plagiamos trabalhos para melhorar nossas médias escolares e iludimos potenciais parceiros sexuais para seduzi-los à cama. Pesquisas mostram que os mentirosos conseguem com mais freqüência obter emprego e atrair pessoas do sexo oposto para relacionamento.

Vários anos depois Feldman demonstrou que os adolescentes mais populares na escola são também os melhores a enganar seus pares.

Mentir continua a funcionar. Embora arriscado mentir o tempo todo (lembre-se do destino do menino que gritou: "Lobo!"), mentir freqüentemente e bem, continua um passaporte para o sucesso social, profissional e econômico.


Enganando a nós mesmos

Ironicamente, a principal razão de sermos tão bons para mentir aos outros é que somos bons para mentir a nós mesmos. Há uma estranha assimetria em como partilhamos a desonestidade. Embora estejamos sempre prontos para acusar os outros de nos enganar, somos incrivelmente distraídos com nossa própria duplicidade.

Experiências de termos sido vítimas de falsidade são gravadas indelevelmente em nossa memória, mas nossas próprias prevaricações escapam tão facilmente de nossa boca que geralmente nem nos damos conta delas.

O estranho fenômeno do auto-engano é objeto da perplexidade de filósofos e psicólogos há mais de 2 mil anos.

A idéia de que uma pessoa possa iludir a si mesma parece tão sem sentido quanto trapacear no jogo de paciência ou roubar dinheiro da própria conta bancária.

Mas o caráter paradoxal do auto-engano deriva da idéia, formalizada pelo filósofo francês René Descartes no século XVII, de que a mente humana é transparente para o próprio indivíduo e que a introspeção permite um entendimento preciso de nossa vida mental. Por mais natural que essa perspectiva seja para a maioria de nós, ela se revela profundamente equivocada.
Se pretendemos entender o auto-engano, precisamos nos valer de uma concepção cientificamente mais segura de como a mente funciona.

O cérebro engloba um número de sistemas funcionais. O sistema responsável pela cognição - a parte pensante - é de certa forma distinto daquele que produz experiências conscientes. Ambos se comunicam de modo análogo à relação entre o processador e o monitor de um computador pessoal. O funcionamento ocorre no processador; o monitor só faz mostrar as informações que o processador transfere para ele.

Da mesma maneira, os sistemas cognitivos do cérebro processam o pensar, enquanto a consciência revela as informações recebidas. A consciência tem um papel menos importante na cognição do que anteriormente se supunha.

Esse quadro geral é sustentado por significativa evidência experimental. Alguns dos mais notáveis e discutidos estudos foram conduzidos há várias décadas pelo neurocientista Benjamin Libet, atualmente professor emérito da Universidade da Califórnia, em San Diego. Em um experimento, Libet posicionou indivíduos em frente a um botão e a um relógio cujo ponteiro se movia rapidamente. Ele então pediu que, ao sentirem vontade, pressionassem o botão, registrando a hora mostrada no relógio no momento em que sentiram o impulso para pressionar o botão. Libet também colocou, em cada um dos participantes, eletrodos sobre o córtex motor, que controla o movimento, para monitorar a tensão elétrica à medida que o cérebro se preparava para iniciar uma ação.

Ele descobriu que nosso cérebro começa a se preparar para iniciar uma ação mais que três décimos de segundo antes de decidirmos conscientemente agir.

Em outras palavras, apesar das aparências, não é a mente consciente que decide desempenhar uma ação: a decisão é tomada inconscientemente.

Embora nossa consciência goste de ter o crédito (por assim dizer), ela é meramente informada de decisões inconscientes após o fato.

Esse e outros estudos sugerem que somos sistematicamente iludidos sobre o papel que a consciência tem em nossa vida. Por mais estranho que pareça, a consciência talvez só faça dispor os resultados da experiência inconsciente.

Esse modelo geral da mente, sustentado por vários outros experimentos, nos fornece exatamente o que precisamos para resolver o paradoxo do auto-engano - pelo menos em teoria. Conseguimos nos enganar invocando o equivalente a um filtro cognitivo entre o conhecimento inconsciente e o conhecimento consciente.

O filtro prioriza informações antes que alcancem a consciência, impedindo que os pensamentos selecionados proliferem pelas vias neurais até se tornar conscientes.


Solucionando o Problema de Pinóquio

Mas por que filtraríamos informações? Se considerada de uma perspectiva biológica, essa noção apresenta um problema. A idéia de que temos uma tendência evolutiva de nos privar de informações soa muito implausível, arriscada e biologicamente desvantajosa. Uma vez mais, porém, podemos encontrar uma pista em Mark Twain, que nos legou uma explicação surpreendentemente compreensível: "Quando uma pessoa não consegue enganar a si mesma", escreveu ele, "não há muita chance de conseguir enganar os outros." A vantagem do auto-engano é que nos ajuda a mentir aos outros de maneira mais convincente. Ocultar a verdade de nós mesmos a oculta dos outros.

No começo dos anos 70, o biólogo Robert Trivers, atualmente na Universidade de Rutgers, deu comprovação científica ao "insight" de Twain. Segundo Trivers, nosso talento para o auto-engano poderia ser a solução para um problema de adaptação enfrentado repetidamente por ancestrais humanos na tentativa de enganar uns aos outros. Enganar pode ser um negócio arriscado.

Dentro do bando tribal e caçador, que presumivelmente era o ambiente social padrão em que nossos ancestrais hominídeos viviam, ser pego em ato escuso poderia resultar em ostracismo ou banimento da comunidade, tornar-se isca para hienas. Como nossos ancestrais eram primatas experientes e altamente inteligentes, houve um momento em que tomaram consciência desses perigos e aprenderam a ser mentirosos autoconscientes.
Essa consciência criou um problema novo. Mentirosos que se sentem desconfortáveis e tensos não mentem bem. Como Pinóquio, eles se traem por comportamentos involuntários, não-verbais. Há muita evidência experimental indicando que os humanos são notadamente adeptos a inferir sobre os estados mentais uns dos outros com base em uma mímima exposição a informações não-verbais.

Como Freud comentou certa vez: "Nenhum mortal consegue guardar segredo. Ainda que seus lábios estejam silentes, as pontas de seus dedos falam; todos os seus poros o traem".

No esforço para dominar nossa crescente ansiedade, podemos automaticamente aumentar o tom de nossa voz, corar, transpirar frio, ter coceira no nariz ou fazer pequenos movimentos com os pés como se quiséssemos fugir.

Podemos também, opostamente, controlar ao máximo o tom da voz e tentar conter movimentos reveladores, levantando suspeita por nossa atitude rígida e contida. Em qualquer dos casos, sabotamos nosso próprio esforço de enganar.

Hoje em dia um vendedor de carros usados pode esconder a malícia de seus olhos atrás de óculos de sol, mas não existia tal recurso durante a época do Pleistoceno. Eram necessárias outras soluções.A seleção natural parece ter liqüidado o problema de Pinóquio ao nos favorecer com a habilidade de mentir para nós mesmos. Enganar a nós mesmos permite-nos manipular egoisticamente os que nos cercam e permanecer convenientemente inocentes perante os próprios olhos.

Se isso é verdadeiro, o auto-engano se fixou na mente humana como uma ferramenta para manipulação social. Como Trivers observou, os biólogos propuseram que a principal função do auto-engano é enganar mais facilmente os outros. O auto-engano nos ajuda a enredar outras pessoas mais eficazmente. Permite-nos mentir com sinceridade, mentir sem saber que estamos mentindo. Deixa de haver a necessidade de fazer uma encenação, de fingir que estamos falando a verdade. A pessoa que se auto-engana julga, na realidade, estar falando a verdade, e acreditar na própria história a faz ainda mais persuasiva.

Embora seja difícil testar a tese de Trivers, ela ganhou larga aceitação por ser a única explicação biologicamente realista do auto-engano como uma característica adaptativa da mente humana. Essa visão também se encaixa muito bem em um considerável número de trabalhos sobre as raízes evolutivas do comportamento social que têm sido comprovados empiricamente.

Naturalmente, o auto-engano não é sempre tão absoluto. Algumas vezes estamos cientes de ser incautos em nosso próprio jogo de enganar, recusando-nos teimosamente a articular de maneira explícita para nós mesmos o que estamos prestes a fazer.

Sabemos que as histórias que elucubramos não se coadunam com nosso comportamento, ou destoam dos sinais físicos, como palpitação cardíaca ou mãos suadas, que traem nosso estado emocional. Por exemplo, os estudantes mencionados anteriormente, que admitiram suas mentiras ao se ver na fita de vídeo, sabiam por vezes estar mentindo, e mesmo assim não pararam, porque esse comportamento não os incomodou.

Outras vezes, porém, estamos na feliz ignorância de que jogamos fumaça nos próprios olhos. Uma perspectiva biológica nos ajuda a entender o porquê de os mecanismos cognitivos do auto-engano nos aliciarem tão fácil e silenciosamente. De maneira esperta e imperceptível, eles nos enredam em desempenhos tão elaborados que a encenação transmite total sinceridade a nós, os próprios atores.

Tradução de Rachel B. Schwartz



A Mentira da Felicidade
Mentir para nós mesmos pode ser uma maneira de manter a saúde mental. Diversos estudos clássicos a respeito do assunto indicam que pessoas com depressão moderada na realidade enganam menos a si mesmas que aquelas ditas normais. Lauren B. Alloy, da Universidade de Temple, e Lyn Y. Abramson, da Universidade de Wisconsin-Madison, desvendaram essa tendência, manipulando clandestinamente o resultado de uma série de jogos. Indivíduos saudáveis que participaram dos jogos inclinavam-se a levar o crédito quando ganhavam e subestimavam sua contribuição para o resultado quando não se saíam bem. Os deprimidos, entretanto, avaliavam sua contribuição com muito mais precisão. Em outro estudo, o psicólogo Peter M. Lewisohn, professor emérito da Universidade de Oregon, mostrou que os depressivos julgam as atitudes das outras pessoas em relação a eles com maior exatidão que os não-depressivos. Além disso, essa habilidade na realidade degenera à medida que os sintomas psicológicos da depressão melhoram em resposta ao tratamento.

Talvez a saúde mental repouse no auto-engano, e ficar deprimido resulte de uma falha na habilidade de enganar a si mesmo. Afinal de contas, todos vamos morrer, todos os nossos entes queridos vão morrer, e grande parte do mundo vive em abjeta miséria. Portanto, quase não há razões para ser feliz diante desse cenário. - D. L. S


Volume cerebral
O Homo sapiens tem o cérebro grande. Nossos parentes, macacos e primatas, também. Normalmente o tamanho do cérebro das espécies aumenta com o crescimento do corpo e dinâmica metabólica, mas, segundo essa fórmula, primatas têm o volume do cérebro de criaturas duas vezes maiores. Muito do aumento advém do desenvolvimento intenso do neocórtex.

Um estudo de 2004, realizado por Richard W. Byrne e Nadia Corp, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, mostra que o uso de dissimulação pelas espécies primatas aumenta com o volume neocortical; ou seja, os membros das espécies com cérebros mais pesados tendem mais a enganar uns aos outros. O tamanho do cérebro humano, naturalmente, é superior ao de todas as outras espécies em uma tabela comparativa.- D. L. S.


Melhores Polígrafos
Embora aqueles que defendem o polígrafo aleguem um índice de acerto de cerca de 90%, muitos críticos dizem que essa taxa está mais próxima dos 60%.

O problema é que, apesar do apelido "detector de mentira", a máquina na realidade não reconhece falsidades.

Seus eletrodos, colocados em vários pontos do corpo da pessoa, medem sinais psicológicos de stress, tais como batimento cardíaco e pressão sangüínea elevados. Esses sinais freqüentemente acompanham a mentira, mas, se a pessoa conseguir mentir calmamente, há boa chance de derrotar o polígrafo.

De modo oposto, o indivíduo que fala a verdade, mas está ansioso quanto ao procedimento, poderá produzir uma falsa leitura positiva. Os cientistas estão trabalhando em uma nova geração de detectores de mentira cujo alvo é o próprio mentir. Por exemplo, o neurocientista Lawrence A. Farwell, dos Laboratórios Brain Fingerprinting, desenvolveu um método com o mesmo nome, "impressões cerebrais". O sujeito usa um capacete com eletrodos que produz um eletroencefalograma (EEG) - um registro das mudanças elétricas no cérebro. Ao monitorar a atividade neural dessa forma, Farwell afirma que pode detectar a desonestidade com precisão de quase 100%. O método se baseia em sinais reveladores de reconhecimento visual no cérebro. Por exemplo, uma pessoa sob suspeita a quem seja mostrada uma arma pode dizer que nunca a viu antes, mas seu cérebro, segundo Farewell, gerará uma onda chamada P300 que ocorre automaticamente quando reconhecemos um objeto.

Outra abordagem está sendo explorada pelo psicólogo Stephen M. Kosslyn, da Universidade Harvard. Kosslyn usa tecnologias imagéticas para estudar o que ocorre no cérebro quando mentimos. Suas descobertas indicam que o mentir está associado a uma maior atividade cerebral que o falar a verdade, e essa atividade em certas áreas do cérebro está associada a tipos distintos de mentiras.Apesar de esses e outros métodos ainda serem controvertidos, é bem provável que a próxima década dê aos pesquisadores acesso sem precedentes aos recessos de nossa mente - para o bem ou para o mal.- D. L. S


Para conhecer maisO roubo do elefante branco. Mark Twain. Cosac & Naify, 2004.

The thinking primate\\'s guide to deception. Richard W. Byrne e Andrew A. Whiten, em New Scientist, no 1589, págs. 54-57, dezembro de 1987.

Who lies? Deborah A. Kashy e Bella M. DePaulo, em Journal of Personality and Social Psychology, vol. 70, no 5, págs. 1037-1051, 1996.

Natural selection and social theory: Selected papers of Robert Trivers. Robert Trivers. Oxford University Press, 2002.

Ninguém vive sem mentir. Ulrich Kraft, em Viver Mente&Cérebro, no 141.David Livingstone Smith é diretor fundador do New England Institute for Cognitive Science and Evolutionary Psychology e autor do livro Why we lie: the evolutionary roots of deception and the unconscious mind (St. Martin\\'s Press, 2004).© Duetto Editorial. Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Lista das 47 Postagens até agora


Março
Estar em evidência . . . tem um preço
O melhor remédio
Khalil Gibran
Meu trabalho
O que se propõe numa terapia
O grande flagelo social
Família e apoio

Abril
Um pouco de silêncio
Quem canta os males espanta
Amor só não basta
Goethe
Filhos
Beleza da Mulher
Pais x Filhos - Limites
O efeito das cores em nossa vida
Lave sua vidraça
Receita de felicidade existe ?
Se não quiser adoecer . . .
Terceira Idade ? E a fonte da juventude ?
Drogas e o início entre os jovens
Banalização . . . " O monstro da indiferença "
Liberdade ? Quem a tem ?
O Princípio 90/10
Voltando ao assunto Drogas
Saber priorizar
Convite
" O que toda mulher inteligente deve saber "
As faces da depressão
O Tempo parece passar cada vez mais rápido ?
Amiga faz bem à saúde - Oxitocina
Os três últimos desejos
Como nasce um paradigma , que leva ao preconceito
Feng Shui interior
Não ao pensamento negativo

Maio
A mente mente
O poder de acreditar
Somos mentirosos natos
Casamento , Frescobol e Tênis
Dificuldade com a Diferença
Auto-Estima
Ficções da Mente
Consumo de Drogas na Adolescência
Mentiras - continuando o assunto
A Lagosta e as crises de crescimento
Cuide-se para poder cuidar