sábado, 24 de maio de 2008

A Lagosta e as crises de crescimento

Por vezes , meus pacientes chegam com a queixa de que estão desanimados , de baixo - astral , desesperançados , que tudo vai mal e que parece que estão fazendo tudo errado , não havendo possibilidades de mudar isso .
Estão surpresos por esse não ser seu comportamento habitual e , ao mesmo tempo , não conseguem imaginar o que possa ter desencadeado essa crise .
Pensam logo em depressão ou ataque de pânico .
Costumo fazer uma comparação que lí , anos atrás , num livro da José Olimpio Editora , cujo nome , se não me engano , era "Crises " , ou talvez , "Fases" .
A autora era uma psicóloga americana ( ou inglêsa ) , que havia feito uma pesquisa para provar que temos crises de crescimento durante toda a nossa vida . Fazia , para ilustrar , uma comparação com o crescimento da lagosta .
Peço perdão pelas informações imprecisas sobre o livro . Eu o emprestei e nunca mais me foi devolvido .O pior é não lembrar a quem emprestei !
Dizia ela , que as etapas de desenvolvimento eram estudadas até o final da adolescência , como se a evolução se encerrasse com a entrada na idade adulta . O que ela considerava um erro .

Concordo plenamente com isso . Gosto de pensar que os seres humanos normais , só param de evoluir com a morte .

A lagosta é o maior invertebrado do mundo . Com a sua dura carapaça movimenta-se confiante sem ser ameaçada por predadores naturais .
Ela desconhece o risco que corre vindo dos humanos que tanto apreciam sua carne !
Mas a lagosta nasce pequena e para que seu corpo possa se expandir , é necessário que sua carapaça se quebre . Aí seu corpo macio fica exposto e pode aumentar seu tamanho .
Nesses períodos ela fica vulnerável , assustada e não sai da toca onde se refugia . Está sem a sua proteção natural e privada da estrutura que lhe garante a segurança .
É uma situação ameaçadora , fora da tranqüilidade de sua vida habitual .
A mudança e o novo a fragilizam ! E fica assim até que se crie outra carapaça adeqüada ao seu novo tamanho . Então retoma sua vida normal , sentindo-se segura e protegida .
Essas etapas acontecem algumas vezes até que ela atinja seu tamanho final .
Em todas elas a lagosta vive esse sofrimento de medo e insegurança .
Mas não há outra forma de crescer .

O mesmo acontece conosco , seres humanos . Durante nossas vidas temos que ir nos adaptando às mudanças trazidas pela aprendizagem de novas experiências e do nosso contato com outros humanos . Estamos sempre aprendendo e crescendo . Ou melhor , deveríamos !
São muitas as fases sofridas de insegurança em nossa vida , causadas pelo aprendizado e pelas modificações que o acompanham . Mas isso é viver e aprender .
Todas as nossas certezas são postas em dúvida . O caminho conhecido trilhado até então , parece que não nos serve mais .
Perdemos nossas referências . Como se diz : "Perdemos o chão ."
É uma época de medo , insegurança e desamparo .
Ficamos deprimidos , "fechamos para balanço" , isolados em nossa "toca" , porque o mundo se torna assustador .
O que mais apavora é que não nos reconhecemos e não sabemos o que está acontecendo conosco , nem porquê .
Não identificamos que estão se abrindo novas portas , novas possibilidades para a nova pessoa que está nascendo em nós .
Ficamos cegos e paralisados frente às mudanças .
Mas só se cresce sofrendo . Quebrando as estruturas para criar novas .
As pessoas que tentam ignorar suas crises de crescimento , como forma de proteção da dor , vivem uma vida estagnada . Se castram por medo de viver !
Quem não tem crises já morreu e não sabe .
Ao nos conhecermos melhor , iremos entender esse processo e aguardar , sem angústia que ele se complete . É o nosso aperfeiçoamento em evolução !
Espero que após essa leitura vocês pensem como eu : " Que venham as crises , estou pronto para aproveitá-las . "
Carmen Marina Sande

2 comentários:

almirante disse...

Aqueles que passaram por uma infância,que tudo pode ser visto como ameaçador...pode ter dificuldades ao se deparar com a perda da "couraça" como a lagosta.E ainda "criar" estórias en torno de alguma situação problema para que alguém sinta pena.

vania guerra disse...

aos 50 anos recem completados ,posso afirmar que já passei por dezenas (ou centenas?),de crise.
descobri que quando não nado contra a maré,ou seja ,mergulho fundo na minha dor ,vou ao fundo do poço, logo depois renasço das cinzas ,como fênix."pronta pra outra". Recomendo.