sexta-feira, 18 de abril de 2008

Liberdade ? Quem a tem ?



Somos eternos prisioneiros . É até engraçado tentarmos lutar contra essa idéia , quando os grilhões que nos prendem são sempre criados por nós , racionalmente ou não .

O "ter" já nos escraviza . O que se tem , sejam objetos , pessoas , animais , plantas ou idéias exigem tempo , cuidado e dedicação . Difícil dizer se nós temos um bem ou se é ele quem nos tem !

Qualquer tipo de ligação , como a própria palavra indica , nos liga , nos "prende" e aí foi-se a liberdade .

Nem de nossos pensamentos somos senhores . Quantos vivem presos à lembranças , à desejos não realizados , à metas não alcançadas ? Ou vivemos presos à frustrações e até a realizações que nos foram impostas ou incutidas sem que disso nos tenhamos dado conta .

Quantas vezes perseguimos sonhos que nem são nossos ?

Vale compreender e refletir sobre isso , para que se aceite e não se persiga o impossível numa luta inglória e patética como Don Quixote contra seus moinhos de vento .

Tudo que não somos é livres ! Mas isso não nos impede de realizar inúmeros momentos de extrema felicidade .
Carmen Marina



A PRISÃO DE CADA UM

O psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão na qual quer viver.
Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração.
Liberdade não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum comportamento para vestir.
No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem um crachá de identificação pendurado no pescoço.
Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura.
São cativeiros bem mais agradáveis do que o Carandiru: podemos pegar sol, ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa própria e hábeas corpus, nem pensar.
O casamento pode ser uma prisão.
E a maternidade, a pena máxima.
Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos.
O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia.
Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza
Viver sem laços igualmente pode nos reter.
Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também.
Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho.
Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória.
Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados.
É uma opção consciente.
Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes.
Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós (nascer), foram trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria e exclusão.
Brindemos: temos todos, cela especial.

Um comentário:

almirante disse...

Às vezes idealizamos com sonhos dourados um futuro cheio de felicidade. Alimentamos expectativas que geram ansiedade e desassossego, fazendo de nossas vidas uma "prisão".